Estimulação Cerebral Profunda: benefícios para pacientes em estágio avançado de Parkinson

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Um estudo recente chamado, “Devemos considerar a descontinuação da estimulação cerebral profunda na doença de Parkinson em estágio avançado?”, publicado na revista Movement Disorders, revelou que o tratamento continuado com estimulação cerebral profunda subtalâmica (DBS-STN) apresentou benefícios em pacientes com doença de Parkinson em estágio avançado. 

O que é Estimulação Cerebral Profunda Subtalâmica (DBS-STN)?

Primeiramente vamos explicar de modo bem geral do que se trata o DBS-STN. Esse procedimento consiste em implantar cirurgicamente um eletrodo no cérebro para estimular o núcleo subtalâmico (área que envolve a função motora) com pulsos elétricos. Esses pulsos com carga balanceada e voltagem controlada são gerados por um neuroestimulador colocado sob a pele e conectado através de fios subcutâneos.

O DBS-STN é eficaz no gerenciamento dos sintomas motores do Parkinson , especialmente em pessoas com doença avançada cujos problemas motores não melhoram mais com a medicação. No entanto, seus benefícios nos estágios finais da doença de Parkinson eram incertos, e ainda não há diretrizes claras para ajudar os médicos a decidir quando e como a descontinuação do DBS-STN deve ser considerada nesses pacientes, geralmente não incluídos em ensaios clínicos.

O estudo

O uso contínuo de DBS-STN pode exigir internação hospitalar e intervenções cirúrgicas para substituir o neuroestimulador. Geralmente isso ocorre a cada quatro a cinco anos para dispositivos não recarregáveis. Por esses motivos, a decisão de submeter um paciente com Parkinson, frequentemente idoso, a esse procedimento deve ser apoiada por um suposto benefício em termos de eficácia nos sintomas e qualidade de vida.

Pensando nisso, alguns pesquisadores italianos decidiram avaliar a real “utilidade” da estimulação cerebral subtalâmica profunda em pessoas com Parkinson em estágio avançado, avaliando a porcentagem de “pacientes que respondem mal”. Isso foi usado para desenvolver um algoritmo de decisão de tratamento para orientar os médicos sobre “se e quando a descontinuação do DBS pode ser considerada”.

O estudo incluiu 36 pacientes em estágio avançado de Parkinson (20 homens e 16 mulheres) tratados com DBS-STN por pelo menos cinco anos, e cujos parâmetros de estimulação e medicação antiparkinsoniana permaneceram estáveis ​​por pelo menos três meses antes da inscrição.

Os pacientes recrutados para o estudo tinham idade média de 71,1 anos, duração média da doença de 27,2 anos e foram tratados com estimulação cerebral profunda por um período médio de 14,1 anos.

As respostas ao DBS-STN foram avaliadas através de alterações na Escala Unificada de Classificação da Doença de Parkinson (UPDRS)- parte III (que mede a função motora) entre duas condições: estimulação ativada, estimulação desativada (teste de estimulação) .

Cada condição de estimulação foi mantida por pelo menos uma hora antes da avaliação, e a sequência de condições foi aleatória, com pacientes e médicos cegos a ela. Nas duas condições, os pacientes haviam tomado seu último medicamento pelo menos 12 horas antes do teste (sem medicação).

Os participantes foram considerados “fracos” se as melhorias na função motora entre as condições “desligado” e “ligado” fossem inferiores a 10%, pois alterações de 11% eram anteriormente consideradas como “minimamente significativas”.

Aqueles pacientes  que apresentaram melhoras motoras de pelo menos 10% foram mantidos no DBS-STN e finalizaram o estudo, enquanto os “que responderam mal” tiveram sua estimulação desativada por um mês e continuaram com a medicação, após o mês que a função motora foi reavaliada. 

Quando a função motora do paciente não piorava após um mês e/ou nenhum evento adverso foi relatado, a estimulação era mantida “desligada”. Mas se os sintomas piorassem, a estimulação era ativada novamente.

Os resultados

Os resultados dos 35 pacientes tratados (um deixou o estudo) apresentaram uma melhora motora média de 17% quando a estimulação foi ativada, o que foi considerado estatisticamente e clinicamente significativo.

Durante o estudo, melhorias significativas foram observadas principalmente na rigidez dos pacientes, lentidão de movimento, tremor em repouso e estabilidade postural. Não foram encontradas alterações significativas na fala, congelamento da marcha, etc.

Do total de pacientes, 7 (20%) foram classificados como “maus respondedores”. O agravamento dos sintomas ocorreu em 4 deles (57%) nas duas primeiras semanas sem estimulação, e um paciente precisou ativar a estimulação após três dias.

Além disso, 6 pacientes completaram a segunda avaliação, com 4 deles mostrando um aumento na dose diária de levodopa e 3 exigindo que a estimulação fosse ligada novamente devido ao agravamento dos sintomas.

Somente 3 dos 35 pacientes permaneceram com DBS-STN desativados após o término do estudo, sugerindo que a grande maioria (92%) dos pacientes com doença de Parkinson em estágio avançado se beneficiam com o DBS-STN contínuo. 

A equipe de pesquisadores também observou que futuros estudos maiores são necessários para confirmar esses resultados e melhorar o manejo da doença de Parkinson em estágio avançado sob DBS a longo prazo.

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