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As alterações do sono são uma das complicações não-motoras mais comuns na Doença de Parkinson. Esses sintomas alteram significativamente a qualidade de vida dos pacientes com Parkinson, mas são muitas vezes subdiagnosticados.
As alterações do sono podem se desenvolver vários anos antes que a Doença de Parkinson seja clinicamente diagnosticada, e a sua investigação pode ser muito importante para entender a fisiopatologia da própria doença.
Por muitos anos, na Doença de Parkinson, as atenções e tratamentos estavam todos voltados para os sintomas motores. No entanto, os aspectos não-motores também ocorrem com uma grande frequência e, muitas vezes, até mesmo precedem o aparecimento dos sintomas motores.
Os sintomas não-motores são problemáticos nos estágios avançados da doença. Podem atingir as áreas neuropsiquiátricas, incluindo depressão, psicose, alucinações e disfunção cognitiva. Outras áreas que podem ser atingidas são a autonômica, sensorial e do sono.
As manifestações não-motoras da Doença de Parkinson podem, em alguns casos, levar a um aumento maior da incapacidade, quando em relação a disfunção motora, e tendem a não responder a tratamentos dopaminérgicos.
Outro ponto a ser observado é que as intervenções farmacológicas utilizadas no tratamento dos sintomas motores nos parkinsonianos podem induzir efeitos adversos e agravar alguns dos sintomas não-motores como alucinações, sonolência excessiva ou insônia e hipotensão ortostática (também conhecida como hipotensão postural, ortostase e coloquialmente como tontura, é uma forma de hipotensão em que a pressão arterial de uma pessoa cai abruptamente quando esta pessoa assume a posição de pé ou quando realiza um alongamento).
As alterações do sono podem fazer parte da doença ou serem iatrogênicas, ou seja, efeitos adversos ou complicações resultantes do tratamento médico. Como foi dito anteriormente, essas alterações podem se desenvolver vários anos antes que a Doença de Parkinson seja clinicamente evidente, e o seu diagnóstico pode ser importante para entender a fisiopatologia da própria doença.
Quais as alterações do sono presentes em pacientes com Parkinson?
O sono pode ser definido como um estado de relativa inconsciência do qual a pessoa pode ser despertada por meio de estímulos internos ou externos, sensoriais ou de outra natureza.
Uma das características do sono normal em pessoas adultas é a ciclicidade, ou seja, durante a noite pode-se observar uma alternância do sono, formando ciclos, sendo normal a existência de pelo menos cinco ciclos de sono.
Os pacientes com Doença de Parkinson possuem dificuldades em iniciar o sono, têm seu sono fragmentado, sofrem com sonolência diurna excessiva e eventos anormais durante o sono. Acredita-se que a origem destas alterações é dada por vários fatores e podem estar relacionadas diretamente:
- com o envelhecimento
- com a patologia cerebral da doença em si
- com os medicamentos utilizados no tratamento
- serem doenças primárias do sono, ou ocorrerem associadas a outras patologias médicas e sintomas neuropsiquiátricos.
Os sintomas motores da Doença de Parkinson, tais como tremores, rigidez e bradicinesia, apesar de serem menos intensos durante o sono, podem não desaparecer por completo, colaborando para alteração da sua qualidade.
O tremor, por exemplo, é um dos sintomas capaz de produzir “microdespertares”. A rigidez também persiste durante a noite, principalmente em pacientes que possuem flutuações motoras, e a bradicinesia dificulta a mobilidade adequada. Portanto, acredita-se que quanto maior a gravidade dos sintomas da Doença de Parkinson no paciente, mais severas são as alterações do sono que ele apresenta. Veja a seguir um pouco mais sobre as principais alterações do sono que um parkinsoniano pode apresentar:
Sonolência Diurna Excessiva: é uma alteração do sono bastante comum e incapacitante associada aos parkinsonianos. Essa alteração foi correlacionada a Doença de Parkinson mais grave, a maior morbilidade e declínio cognitivo, a alucinações mais constantes e a maior duração do tratamento com levodopa.
Alteração de Comportamento do Sono: é uma parassonia caracterizada pela perda da normal atonia muscular esquelética durante o sono e o aparecimento de atividade motora excessiva associada ao sonho. Os pacientes de Parkinson costumam relatar sonhos intensos e agitados, geralmente de conteúdo agressivo, podendo estar associados a movimentos semi-intencionais, relativamente coordenados. A atividade motora é uma causa frequente de lesão física, que pode atingir o doente ou o cônjuge.
Síndrome das Pernas Inquietas e Movimentos Periódicos dos Membros: A SPI é uma patologia neurológica e sensório motora caracterizada por uma necessidade inevitável de mexer as pernas acompanhada ou provocada por desconforto ou sensação desagradável, sentida profundamente, geralmente de difícil descrição (dor tipo queimadura, picadas, formigueiros, pontadas, comichão, cãibras, entre outras designações). Os sintomas iniciam-se ou agravam-se com períodos de repouso ou inatividade e aliviam parcial ou totalmente com o movimento.
Já os movimentos periódicos dos membros no sono podem ocorrer como o Distúrbio dos Movimentos Periódicos dos Membros no sono. A causa ainda não está bem esclarecida e não foi explicado se este distúrbio representa uma forma clínica menos severa de SPI.
Insônia: a principal característica da insônia é uma queixa de dificuldade para iniciar ou manter o sono ou de um sono não reparador, que dura no mínimo um mês e causa um sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. A insônia é a alteração do sono mais comum na população geral, e pode envolver a iniciação do sono, sono fragmentado ou despertar precoce.
Essa alteração do sono é uma queixa muito comum nos pacientes de Parkinson, representando um importante fator negativo na qualidade de vida destes pacientes e dos seus cuidadores. A insônia na Doença de Parkinson pode ocorrer como uma consequência diretamente ligada ao processo patológico da doença ou pode ser causada devido a fatores associados à doença, como a distonia dolorosa, a reemergência do tremor durante a noite, os distúrbios do humor, os efeitos medicamentosos, entre outros.
Apnéia Obstrutiva do Sono: esse tipo de alteração se define pelos episódios recorrentes de colapso das vias aéreas superiores durante o sono. A obstrução resultante pode ser completa (apneia) ou parcial (hipopneia). A apneia corresponde à interrupção completa do fluxo aéreo por um período mínimo de 10 segundos. Já a hipopneia caracteriza-se pela diminuição de metade da capacidade de ventilação durante o sono.
A Doença de Parkinson estimula as alterações da função pulmonar e das vias aéreas que podem aumentar o risco para a síndrome da apnéia obstrutiva do sono. Essa possível frequência aumentada no Parkinson pode ser explicada devido às alterações dos músculos respiratórios (resultante da rigidez e discinesias diafragmáticas) e ao fechamento intermitente da via aérea superior.
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